sábado, 14 de novembro de 2009

Sinto a ausência. A ausência das palavras. Essas nunca me deixavam só.
Sinto saudades dos tempos em que as palavras surgiam por entre os meus dedos e que dançavam que nem borboletas a volta de uma flor, neste caso a flor era a folha de papel que nunca se mostrava vazia para mim. Essa folha de papel, quase todos os dias diferente, ouvia-me num silêncio perpétuo, por entre o meu olhar e o manusear da caneta (nunca fui do género de escrever a lápis; não gosto de cair na tentação de apagar os erros, pois isso da-me uma noção irreal da realidade), e essa folha de papel nunca me falhava. Sem se queixar ouvia-me com a maior das atenções, sem por momentos pensar em me virar costas. Se calhar é esse o azar dos objectos inanimados. Um peluche por muito que seja molhado com as lágrimas de uma criança nunca lhe vira costas, não é que não lhe falte vontade, mas não o pode fazer. O mesmo acontece com as pobres e solitárias folhas de papel. Mas estamos aqui para falar das palavras. Eu tenho saudades delas, tenho mesmo. Tenho saudades das palavras que eu adorava ler, das palavras que eu adorava dizer, das palavras que eu adorava ouvir, e até mesmo daquelas palavras que por segundos viravam actrizes e interpretavam o papel de uma faca, essas mesmas palavras que por mais simples que fossem tornavam um mero segundo, perpétuo.
Elas agora, deixaram-me. Não sei que lhe fiz, não sei se as tratei mal, ou se fui eu sequer que as abandonei. só sei que sinto saudades delas. Voltem.